“O Mosca” não era um bar: Era uma instituição. Para falar a verdade ele nem mesmo se chamava “Bar do Mosca”. Chamava-se Bar Sol, em homenagem a rua que lhe dava abrigo. Mosca era o apelido que nós botamos no garçom. Magrinho, algo entre albino e louro, muito próximo do popular fogoió, estava sempre trazendo cerveja e levando garrafas vazias. Possuía olheiras profundas, quase não falava e circulava nas mesas como uma mosca de padaria. E ainda tinha aquela coisa das duas mãos! Eram curvadas para frente, como que penduradas no antebraço e pendentes na direção do chão. Ele realmente parecia uma mosca. Por isso era o “Bar do Mosca”, e não da mosca.
Karl Marx era nosso companheiro eterno, e o regime militar era o “cachorro da festa”, que todos nós chutávamos com afinco. Chico Buarque, Vinícius de Morais, Garcia Marquez e Josué Montello eram visitantes sempre ilustres, e não raro surgiam outros passantes menos habituais, como Nauro Machado, Paulinho Pedra Azul, Flávio Venturini, 14 Bis e Mercedes Soza. Nada de música yankee. Nada de literatura imperialista. Quando muito um pouco de Beatles, e com alguma desconfiança. Ou um tantinho de Hemingway e Faulkner, mas com vigilância redobrada. E um brinde a Pablo Milanes!
Todos nós bebíamos ‘Cerma’, a cerveja mais barata dos bares citadinos, pois arrancar uma grana para beber Antártica era um pouco mais difícil. Quando pintava um vinho era o bom e velho “Tamandaré”, quando não era sucedido pelo Fiel “Sangue de Boi”. Whisky era quase impossível, a não ser como rescaldo da farra de algum dos nossos pais. E mesmo assim furtado, pois nenhum deles admitiria os filhos de quinze, dezesseis ou dezessete saírem de casa com uma garrafa de escocês.
Lênin também era habituée das rodas, e só superava o herói da Ilha, literalmente, já que vínhamos todos de ler Fernando Morais. E um brinde ao companheiro Fidel!
E a Guerra do Paraguai então? Genocídio Americano todos nós lemos e quase decoramos. E tinha quem puxasse um brinde a Solano Lopez.
Decididamente não era um boteco, era um complemento da escola. Papo de bêbado, papo de apaixonado, papo de esquerdista, e até mesmo papo de crise existencial rolava no “Mosca”. Só não pintava papo de mauricinho, conversa de playboy, e gosto de “filhinho de papai”. Mosca não era lugar para “boi-de-botas”, como dizíamos. Afinal, “nós somos nós, e boi não Lambe. E se lamber, nós corta a língua, pois chapéu de otário é marreta”. Entre “Cermas” quentes e queijo coalho gelado dizíamos isso de todos, e de nós mesmos. Não era um boteco. Era instituição. Era cultura, literatura, política e sociedade. Discurso jurídico veio algum tempo depois, mas aí já estávamos em busca do “Ponto de Fuga”.
A Geração “Bar do Mosca” possui hoje entre 40 (quarenta) e 44 (quarenta e quatro) anos. E ainda tem horror a playboy e mauricinho. Ainda discute política, cultura, literatura e sociedade. Todos pensam o Brasil, o Maranhão, São Luís e o mundo.
Talvez agora continuemos discutir aqui: No “Geração Bar do Mosca”.
Karl Marx era nosso companheiro eterno, e o regime militar era o “cachorro da festa”, que todos nós chutávamos com afinco. Chico Buarque, Vinícius de Morais, Garcia Marquez e Josué Montello eram visitantes sempre ilustres, e não raro surgiam outros passantes menos habituais, como Nauro Machado, Paulinho Pedra Azul, Flávio Venturini, 14 Bis e Mercedes Soza. Nada de música yankee. Nada de literatura imperialista. Quando muito um pouco de Beatles, e com alguma desconfiança. Ou um tantinho de Hemingway e Faulkner, mas com vigilância redobrada. E um brinde a Pablo Milanes!
Todos nós bebíamos ‘Cerma’, a cerveja mais barata dos bares citadinos, pois arrancar uma grana para beber Antártica era um pouco mais difícil. Quando pintava um vinho era o bom e velho “Tamandaré”, quando não era sucedido pelo Fiel “Sangue de Boi”. Whisky era quase impossível, a não ser como rescaldo da farra de algum dos nossos pais. E mesmo assim furtado, pois nenhum deles admitiria os filhos de quinze, dezesseis ou dezessete saírem de casa com uma garrafa de escocês.
Lênin também era habituée das rodas, e só superava o herói da Ilha, literalmente, já que vínhamos todos de ler Fernando Morais. E um brinde ao companheiro Fidel!
E a Guerra do Paraguai então? Genocídio Americano todos nós lemos e quase decoramos. E tinha quem puxasse um brinde a Solano Lopez.
Decididamente não era um boteco, era um complemento da escola. Papo de bêbado, papo de apaixonado, papo de esquerdista, e até mesmo papo de crise existencial rolava no “Mosca”. Só não pintava papo de mauricinho, conversa de playboy, e gosto de “filhinho de papai”. Mosca não era lugar para “boi-de-botas”, como dizíamos. Afinal, “nós somos nós, e boi não Lambe. E se lamber, nós corta a língua, pois chapéu de otário é marreta”. Entre “Cermas” quentes e queijo coalho gelado dizíamos isso de todos, e de nós mesmos. Não era um boteco. Era instituição. Era cultura, literatura, política e sociedade. Discurso jurídico veio algum tempo depois, mas aí já estávamos em busca do “Ponto de Fuga”.
A Geração “Bar do Mosca” possui hoje entre 40 (quarenta) e 44 (quarenta e quatro) anos. E ainda tem horror a playboy e mauricinho. Ainda discute política, cultura, literatura e sociedade. Todos pensam o Brasil, o Maranhão, São Luís e o mundo.
Talvez agora continuemos discutir aqui: No “Geração Bar do Mosca”.
2 comentários:
Profº, fui lendo seu texto e associando com o que vivo aos fins de semana, ou mesmo após uma aula e outra. Geralmente com a mesma turma, no mesmo bar, sem temas definidos, a quantidade de álcool é quem geralmente dirige o raciocínio. Política,músicas,mulheres,amores errados, e quanto mais ébrio, mais filosofias.E nisso reside toda felicidade incompetente. Certo que não existe mais a "cerma",e a antarctica tá bem mais acessível, mas hoje a dona da mesa é Brahma. A heineken fica para quem gosta de coisas ruins e caras (opinião). Não conheço o "Bar do Mosca",gostaria,pois como dizem: "é na simplicidade barata que mora a filosofia rara", e nos bêbados então!!! Pra encerrar o comentário, não poderia esquecer da frase: “nós somos nós, e boi não Lambe. E se lamber, nós corta a língua, pois chapéu de otário é marreta”. . . Abraços professor. Gostei do post!
Caríssimo, è verdade que em alguns lugares dizemos muitas bobagens. Salas, bares, ruas, escolas, internet.... Mas também crescemos quando fazemos isso com algum fundamento. O "Bar do Mosca" era este nosso templo da juventude culturamente engajada. De quem lê, e lê, e ouve, e debate e filosofa, e questiona. Cornellius Castoriades, filósofo francês, dizia que o mal dese mundo é que paramos de nos questionar... Talve seja isso que me incomoda.
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